quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Dez verbos para Sophie Calle





por Paula Alzugaray, Istoé



A vida artística de Sophie Calle sempre foi mediada por ações reincidentes. Selecionamos dez dessas ações para ela comentar. À lista, Sophie acrescentou, no final, mais uma palavra.

Listar
Faço isso como uma maneira seca de colocar as emoções; um modo de tomar distância em relação aos fatos.

Documentar
Não sou documentarista. Documento as regras dos jogos que organizo com um propósito mais poético que jornalístico.

Ficcionalizar
Não invento histórias. Mas as histórias são sempre fictícias. Se escolho uma palavra no lugar de outra, já estou fazendo ficção.

Roteirizar (a própria vida)
Escolho um sujeito completamente arbitrário. Um homem para perseguir. Esse homem não significa nada para mim, mas ele se torna uma obsessão graças à regra do meu jogo. Quando o jogo acaba, ele está fora da minha vida. As regras são uma forma de criar emoção com controle. Em minha vida normal, não tenho esse controle.

Fotografar
Na minha primeira foto eu não vi o que fotografei. Quando estava vivendo na Califórnia, fotografei uma tumba num cemitério, onde estava escrito: “irmão, irmã”. Só me dei conta disso quando voltei à Paris e revelei a foto. Vinte anos depois, voltei ao cemitério e me dei conta de que as tumbas não continham nomes, mas vínculos familiares: “pai, mãe”; “mãe, filha”; irmão, irmã”.

Observar e ser observada
Isso foi há 30 anos atrás. Eu não persigo alguém para observá-lo desde 1979.

Vagar
Comecei a seguir pessoas porque estava perdida, não sabia para onde ir, não tinha desejo nenhum. Pensei que seguindo pessoas descobriria novos lugares. Tomei gosto por não ter de decidir nada, por deixar as pessoas decidirem por mim. Essa foi uma forma de conhecer Paris novamente.

Citar
Eu faço citações? Também não presto atenção a citações ao meu trabalho.
Colaborar

Em “Cuide de você”, quis que outras mulheres respondessem à carta por mim. Minha resposta seria a soma, o acúmulo de todas essas respostas.

Arquivar
Eu arquivo tudo. Guardo tudo, a princípio, porque tenho uma ausência patológica de memória. Leio um livro cinco vezes, fecho o livro e não me lembro o nome do personagem. Sempre fui assim, desde a escola. Arquivo tudo para me lembrar.

Ausência
A palavra que eu diria que mais fala sobre o que eu faço é “ausência”. Eu adicionaria essa palavra à minha lista. Mas não posso dizer nada sobre a ausência.

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